versão-minha-trágico-cómica-de-um-qualquer-ditado-não-sei-de-onde
lá para os confins do Tibete, perdida no meio do aparente nada, vivia uma família muito muito pobre. Num casebre decrépito sobreviviam, um homem-pai cansado e triste, uma mulher-mãe vergada pela dureza do dia a dia e muitas crianças-filhos, magrinhas magrinhas, sujas e descalças sempre doentes e com fome e uma vaca tão magra que mais parecia… sei lá o quê. Um dia igual a tantos outros, passou por ali um monge e o homem apressou-se a cumprimentá-lo numa vontade esquecida mas urgente de mundo e esperança.
- Olá monge! Tu que és tão sábio e corres Mundo podes dizer-me o que hei-de eu fazer para melhorar esta minha difícil e triste vida, bem como a da minha família? – perguntou o homem com um suspiro.
O monge olhou para o homem-pai, para a família, para o casebre e depois fitou o horizonte.
- Vende a vaca…! - disse ele.
- A vaca?! Não posso! – lamentou-se incrédulo o homem.
- A vaca é o meu único sustento! Com ela posso arar o campo, quando calha ter forças…, posso fazer manteiga e… o leite! Depois é que fico sem nada! Não posso vender a vaca!!
O monge olhou com doçura para o homem (sem condescendência…) e repetiu:
- Vende a vaca… - E partiu pelo Mundo em direcção ao horizonte.
Passaram cinco anos, acho eu, ou podem ser três. O monge sempre em direcção ao horizonte voltou a passar ali perto. A impermanência da vida faz com que apesar de às vezes a vida parecer circular, na realidade é experiênciada de forma diferente e por isso sempre na direcção do horizonte.
O homem assim que avistou o monge correu até ele.
- Olá monge! – saudou-o com alegria.
O monge reconheceu então o homem-pai, agora alegre, corado e bem vestido. Olhou e viu uma bela casa, a mulher-mãe contente e tranquila que abraçava os jovens-crianças-filhos que chegavam da escola, numa bela carroça puxada por dois belos cavalos. Viu também os campos lavrados em volta da casa e um tractor.
- Fico contente de te ver e à tua família tão bem, felizes e com saúde! Afinal o que é que aconteceu que originou tão grande mudança? – perguntou o monge sábio na serenidade de quem sabe a resposta (sem soberba…).
- Arranjei coragem e vendi a vaca! – riu o homem.
- Depois… como deixei de ter a única medida que me mantinha mas que afinal de contas só me trazia tristeza… olhei para o horizonte e fui à procura da minha felicidade.
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