Episódio, "A seta-no-rabo-da-Floribela" :)
(olho; veneno; mulher, ou como quem diz IBM)
Quando era pequena, durante um certo periodo em que estive doente, tive que levar injecções diárias. Todos os dias aparecia lá em casa, uma senhora para me dar a dita injecção. Eu, como boa fiteira que sei ser, construía um personagem que não tinha medo nenhum daquilo, e agarrada a uma toalha, a dar uma dentada numa cenoura no momento certo, deitada no sofá castanho, não permitia o sofrimento :D (a Floribela não descreveria isto melhor).
Um dia, já depois daquele mês de tratamentos seguidos, lembro-me de ir com o meu pai, pensava eu, ao Vává (café da moda de alguns, nos 70´s). Quando entrámos, afinal na porta ao lado do café, perguntei onde íamos. O meu pai hesitou e respondeu que já ia ver. Entretanto no elevador reconheci um cheiro qualquer a… éter! Era um consultório e supostamente seria a minha última injecção. Senti-me enganada e zangada por não conseguir defender-me do medo, por ter sido apanhada de surpresa (foi assim que senti as coisas, juro :)). Depois, do que me lembro do episódio, eu deitada numa marquesa, agarrada ao meu pai, rendida ao sentir do medo que tanto me custara antes evitar, uma mulher, antipática como tudo, que me espetou impiedosamente uma agulha do rabo, e só depois foi calmamente preparar a injecção! Malvada! Infeliz…
Nunca mais me esqueci deste episódio e o resultado foi o pânico por análises, vacinas, minhas e mais ainda as das filhas. Nos meus dois partos, a rapidez recordista, e a preocupação máxima em tirar o cateter do soro :D (estou inspirada). Não foi portanto, uma experiência boa.
Agora, confronto-me novamente com uma agulha no rabo, desta feita uma seta. E porque também desta vez apanhada de surpresa, tenho em alerta a recente capacidade de controlar a distância do medo, e questiono-me se para além deste, que quando quero posso decidir enfrentar, será que posso confiar no veneno que me fará amar...?
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