liberdade: Como uma Árvore

liberdade

10.12.09

Como uma Árvore

Adoro árvores, tanto como sei gostar de casas. E por isso percebo que gosto mais ainda das árvores que moram perto das casas.
Durante anos, sempre que num jogo de identidade me tentava definir num “objecto” reconhecia-me árvore. Depois um dia, no meio das minhas noites de psicologia, alguém me perguntou, como me via eu. Pensei imediatamente numa árvore, mas respondi que me sentia um bambu. Ao que parece não foi muito apelativa a imagem, e eu numa necessidade de me justificar e de agradar, num gesto em que cada vez menos me reconheço, expliquei que sempre me tinha visto árvore mas que na verdade me sentia tal como um bambu se deve sentir, delicada, frágil em contraste com a resistência de quem possui a resiliência, a força e a elasticidade de se vergar e contorcer, adaptando-me ao que me vem de encontro, sem quebrar e sem me alterar.
Já aqui contei como as árvores da minha rua me embalam, a mim e aos pássaros. Já aqui falei dos momentos, entre trabalhos-trabalhinhos-e-trabalhões, que aproveito para ler, muito, no meu carro-casa, debaixo delas.
Hoje depois de deixar 6 bebés, com quem aproveitei para rir e cantar, num teatro de Lisboa, encontrei-me, num intervalo de tempo, com as árvores do Parque Eduardo 7º, onde quase nunca vou. Estive "sozinha" à conversa comigo e com elas de todas as cores ainda de Outono. No centro de uma clareira de erva alta, verde e fresquinha, sentei-me na base de um tronco cortado, de costas para a cidade e para o Sr. Marquês. Lá ao fundo umas senhoras amigas, faziam ioga e exercício numas maquinetas que por lá existem espalhadas e que experimentei. Mais á esquerda, também na clareira, numa outra base de árvore cortada rente, estava uma senhora africana a ler e a quem sorri. Depois enrolei bem o cachecol à volta das orelhas para tornar abafado o som da cidade, respirei fundo, e voltei a sentir-me árvore… forte, antiga, sábia, tranquila, fecunda, viva… e comovi-me, porque afinal me sei sentir assim.