Ontem senti-me estranha, o dia também estava. Hoje, de manhã, levei a amiga a tomar café na Rua da Liberdade com o Che Guevara. O António tinha ido lá abaixo ao pão, - deve estar a chegar... A chave do museu que pertence à associação também está lá, fechada. Vamos passear. Esta é a Casa, passeamos, vemos a igreja, Largo da Liberdade. Rua do 25 de Abril de 1974 (que esse é que é mesmo importante), ali está o museu, segundo sei é Árabe, fechado. É uma casinha branca e redonda, com uma meia-lua no "telhado" em bola. A porta fechada tem um buraquinho por onde passo a objectiva da máquina. Três imagens, o museu todo visto. - Que estranho, tem um altar, repara a amiga, - pois se é árabe?... Realmente... Voltamos para trás a olhar as plantas e o reboco das casas, de volta ao largo. Não vemos pessoas mas sentimo-las lá, numa sensação boa que nos recebe. Quero espreitar as traseiras da Casa, sei que há lá um espaço porque vi fotografado do céu. Ali está a Rua 1º de Maio, falta-me descobrir a Rua dos Capitães de Abril. De volta ao António um Sr. olha para nós e questiona-se no olhar tranquilo. O António foi lá abaixo e sim, vive-se bem aqui. Que pena aquela Casa… Ah sim, aquela e ainda aquela, são de um Sr.. muito rico que tem quase tudo aqui à volta. Emprestou a do lado para a associação mas ficou ao abandono. - A Casa, até era jeitosinha e tem um espaço para trás (eu sei) e um poço de lado. – Aqui não há drogados e isso. Eu até deixo a chave do lado de fora da porta da minha casa. – Estamos bem, quase todos reformados.
O homem continua, sereno, agora lançado adivinha-me os prazeres, quando me vê olhar os baloiços – Mas sabe? Os filhos trabalham fora, mas nesta altura passam por cá e começam a ser pais. – Temos 4 bebés novos, e isso já não é nada mau. São três meninas e um menino, ele já nasceu elas ainda não.
Já de volta, por caminhos íngremes com a vista partilhada que reencontrei. – Olha as silvas carregadas de amoras, repara a amiga bem sentada lá no alto.
Fica marcado o encontro com o Che Guevara para um dia.
Hoje, de tarde, mais das histórias dos últimos dias, também das viagens. Solta-se na urgência de quem compreende que pode e deve, porque merece, confiar. Precisa tanto, vê-se e sente-se. Eu adoro, enchem-me as medidas, porque aprendo e vivo-as também. Sem perguntar quase nada para que o guião seja o de verdade e bom, deixo-me envolver nas imagens sentidas e saudosas, que me levam pelo mundo de gentes, sons, imagens de cores fortes e de contrastes, de cheiros, de paisagens. Ainda do tempo do carro joaninha, do Bobi que foi confundido com uma pele na fronteira de outros tempos. – Tem ali uma pele!, diz o guarda. – Sim, é uma pele mas tem um cão lá dentro! :D O restaurante de velas e violinos, que os miúdos querem, para o qual não há dinheiro mas que se não chegar, não faz mal basta regressar de férias mais cedo. Medalhões do lombo de vitela e afinal foi barato. A coragem da verdade, o amor, a Liberdade, de Sul a Norte e de lá para cá, numa inocência e vontade de conhecer, de viver. Todos juntos, porque bons. É musica, aquela das palavras ditas e sentidas assim. Num ritmo que se acelera e pára, que nos emociona e alegra. E eu pertenço porque me reconheço. Não sei porquê, mas é assim.
Acabei de ver actualizado no facebook, o estado civil da mais nova, Viúva. Tem 16 anos e não sei o que quererá isso dizer. A experiência sossega-me o instinto do receio, respeito, porque já tive presente outras duas medidas, do mesmo.
Hoje de noite, como todos os anos por esta altura, há chuva de estrelas cadentes, diz quem vê notícias. Por aqui, mesmo sabendo que existem, com a claridade não se vêem. E eu com tantos desejos para pedir. Está resolvido, quando chegar a hora peço na mesma. Pode ser que acerte em alguma. Porque eu não as vejo mas sei que existem.